O delegado titular da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa,
declarou na tarde desta quinta-feira (25) que o estudante Bruno Eusébio
dos Santos, de 26 anos, aluno do Instituto Nacional de Matemática Pura e
Aplicada (Impa) suspeito da morte do colega de quarto, o cearense José
Leandro Pinheiro, 21 anos, encontrado no chão da cozinha de uma
república no Horto, Zona Sul do Rio, nesta manhã, não estava em suas
funções normais.
"Não sei se efetivamente em função de remédios ou de alguma substância
que ele tenha ingerido", informou. "Estamos terminando a perícia no
local e posteriormente iremos ouvir o suposto autor para que ele possa
esclarecer, uma vez que somente ele e a vítima estavam dentro do quarto
onde aconteceu o fato", disse o delegado.
O suspeito foi encaminhado na manhã desta quinta-feira (25) para o
Hospital Miguel Couto, onde está sob escolta da PM. DE acordo com um
enfermeiro, o jovem estaria sedado com uma das mãos enfaixadas. Uma vez
liberado pelos médicos, ele prestará esclarecimentos na DH.
Segundo a assessoria da Secretaria municipal de Saúde, nesta tarde ele seguia em observação na Emergência. O
G1
tentou localizar a defesa ou a família do jovem, mas, até as 16h40, não
havia conseguido. Segundo a DH, até as 15h30, nenhum advogado ou
parente havia entrado em contato com a especializada.
Quarto dos jovensNo quarto que os dois estudantes
dividiam, não foram encontradas drogas ou álcool, como informou o
delegado. Entretanto, foram encontrados dois frascos de medicação.
"Vamos ver que substâncias possuem estes remédios. Ao que parecem são
tranquilizantes", declarou. O suspeito foi encontrado na cozinha,
desacordado e havia vomitado, segundo o delegado.
Ainda de acordo com Rivaldo Barbosa, não há sinal de luta corporal no
local. José Leandro Pinheiro foi morto com um golpe de uma pedra na
cabeça e quatro golpes de facas na região do peito e do coração. Duas
facas sujas de sangue foram encontradas na república. Ainda segundo o
delegado, também havia vestígios de sangue e tecido da vítima na pedra,
que, de acordo com policiais militares, tinha cerca de 30 cm de
diâmetro.
"Vamos ouvir todas as pessoas que estavam na casa. Há uma linha muito
forte no sentido de apontar o agressor. Queremos saber o que aconteceu,
uma vez que essa pedra não era do andar de cima, mas do andar debaixo.
Ela servia para encostar uma porta e ontem esta pedra estava ali na
parte da noite. Ela foi parar lá em cima e a gente acredita que ela
tenha sido utilizada para atingir a vitima", declarou o delegado.
Rivaldo Barbosa informou ainda que existe a suspeita de que o rapaz
teria marcas de sangue nas mãos ao ser levado para o hospital. "Estou
falando o que me passaram, nós não tivemos contato com ele, mas pedimos
aos médicos que preservem a integridade física dele, claro, como todo
material com que ele foi levado para lá, como as vestes e se tem
vestígios de sangue nas mãos dele", disse.
O delegado informou ainda que ouvirá na tarde desta quinta todos os
outros moradores da república. "Tão logo a gente pegue formalmente a
perícia, com os depoimentos prestados, se nos convencermos que
efetivamente foi ele e será autuado em flagrante em delito", contou.
Embora alguns vizinhos tenham declarado que havia uma festa na
república na noite desta quarta, os moradores negaram esta informação à
polícia.
Ex-estudante do Impa, Renan Ribeiro, foi visitar no
hospital o amigo (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)
Amigos surpresosEx-estudante do Impa e atual aluno
do curso de graduação em economia da Fundação Getúlio Vargas, Renan
Ribeiro, de 23 anos, contou que conhece o suspeito. Eles participaram
juntos de um projeto de orientação educacional que prepara jovens para
estudar matemática. Ele se disse surpreso com a notícia de que o amigo é
suspeito de um crime.
"Estou admirado, porque ele é um cara bem tranquilo, quieto, na dele,
como a maioria dos estudantes de matemática. Ele é de pouca conversa e
de boa paz, não é um cara esquentado", disse Renan, que fez mestrado em
matemática no Impa no período 2007- 2008.
Renan, que é da cidade de Lagarto, contou que o suspeito é de outra
cidade do interior de Sergipe, Malhador. Ele não tem parentes e nem
namorada no Rio. "Fiquei sabendo do que aconteceu por uma amiga em
comum, de Aracaju. Ficamos preocupados e vamos procurá-lo no hospital
para saber o que realmente aconteceu. Estou supreso com tudo isso",
disse Renan, informando que a mãe do suspeito foi contatada pelo Impa.
Outro amigo do suspeito, o estudante de doutorado no Impa Bruno Santos
Góis, de 24 anos, também sergipano, contou que por causa da rotina de
estudos eles tinham pouco contato social. "A gente se via pelos
corredores, Por acaso tínhamos marcado uma confraternização nesta
quinta-feira, um churrasco, no Impa", disse Bruno Góis.
Aulas suspensas
De acordo com o Impa, o suspeito era estudante do mestrado acadêmico em
matemática desde 2011, enquanto que José Leandro estava na instituição
desde o início deste ano. E como são contemporâneos, eles poderiam fazer
algumas aulas juntos, dependendo da grade de horários de cada um.
Atualmente, o Impa tem 39 alunos de mestrado acadêmico, 28 estudantes
no mestrado profissional — para profissionais que atuam no mercado
financeiro — e 80 alunos de doutorado. Por causa do crime, as aulas
foram suspensas nesta quinta (25) e sexta (26). O instituto informa que
está prestando assistência às famílias do estudantes envolvidos no caso.
Comportamentos distintos
Policiais em frente à república de estudantes no
Horto, onde jovem morreu nesta madrugada
(Foto: Cristiane Cardoso/G1)
José Leandro Pinheiro, de 21 anos, é natural de Deputado Irapuan
Pinheiro, no Ceará. Na república onde vivia, vivem cerca de 15
estudantes, entre homens e mulheres.
Amigo de mestrado de Leandro no Impa, Thiago Augusto Silva Dourado, 27
anos, disse que a vítima era uma pessoa bastante sociável e participaria
de uma festa marcada nesta quinta para os aniversariantes de outubro do
Impa, que foi cancelada após o crime.
"O Leandro era uma pessoa simpática, extrovertida, conversava com todo
mundo, levava tudo na brincadeira e não tinha contato com drogas ou
bebidas", afirmou. "Ele batia cartão das 9h às 21h estudando",
completou, acrescentando que na véspera do crime tomou café com o
estudante no Impa, como fazia diariamente.
Mas, ainda de acordo com Thiago, o comportamento do suspeito era bem
diferente. "Ele era um pouco antissocial, não conversava muito com as
pessoas, tinha um comportamento fechado", disse o estudante.
De acordo com outro amigo da vítima, que fez o reconhecimento do corpo,
mas não quis se identificar, José Leandro morava na república há cerca
de um ano. "Ele não tinha nenhum problema de relacionamento, era uma
pessoa calma, tranquila", contou.
Fonte: G1